quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Eu já tenho quase 30

     É, 2012 está acabando e eu estou me sentindo na música nova da Sandy “Hoje já é quinta feira. E eu já tenho quase 30 ♫”. Está aí uma sensação que não se apaga mais. Aparece do nada em coisas banais, como uma escolha de roupa seguida do pensamento - Ah, eu não tenho mais idade pra usar uma estampa dessas.

     Coisas simples, como o cabelo alisado, que não dava trabalho nenhum, mas não era o meu natural, começaram a parecer artificiais demais pra manter. Já tem um ano que eu abandonei praticamente 90% dos meu acessórios. Não tenho mais pulseiras nem anéis, logo eu, que usava 2 ou 3 anéis na mão direita e um na esquerda na época do colégio.

     Meus cordões são simples. Uma corrente com um pingente. Nada mais de cordão com 10 voltas no pescoço ou gargantilhas. Isso se eu usar algum cordão. A mudança nos brincos foi a mais radical. Saí de brincos que esbarravam no meu ombro (e olha que eu tenho o pescoço enorme) para brincos sem nada pendurado. Simplesmente uma bolinha com tarracha. Unhas sempre feitas, mas curtas, pra não me atrapalhar de fazer nada.

     Agora vi uma foto com as minhas primas no natal e percebi que dá pra notar nitidamente que eu sou 10 anos mais velha. Não que eu esteja acabada, não é isso, mas o meu sorriso mudou. Minha alegria é mais sutil que a delas. Eu sorrio mais com os olhos e menos com a boca.

     Isso não me pareceu sinal de meia idade precoce até eu resolver mudar a foto de capa do meu facebook. Tirei uma foto minha andando sozinha em uma praia paradisíaca e queria colocar uma foto de meditação na praia em um por o sol. Foi difícil achar a foto, e muito interessante notar que eu achei fotos lindas de meditação com o sol nascendo, mas não eram bem o que eu queria. Eu queria a foto bem laranja, marcando que era o por do sol, que era o anoitecer na praia. E que o anoitecer é lindo.

     Muitas pessoas vão para a praia para torrarem no sol, e quando o sol diminui elas voltam logo para a casa para pegar menos trânsito. Eu estou como o por do sol na praia. Tem pessoas que fogem porque isso representa um fim, mas na verdade é o começo. O fim do dia e começo da noite, e a noite não é ruim. Se de dia a graça é torrar na areia e brincar na água, de noite a graça é ver as estrelas e a lua, sentir a brisa mais fresca, sentir que aquele espaço é só pra você, em que você pode estar na sua própria companhia.

    Ano que vem eu faço 29 anos. Acho que o meu sol está se pondo. Não vou fechar nenhuma ideia nesse post, só deixar para vocês a mensagem:
     - Aproveitem o por do sol!
Maria Fernanda C. Machado
26/12/12

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um desabafo meio enrolado, mas interessante

O quarto do pânico
                Me lembro do filme – O quarto do pânico, em que a menina acha um buraquinho para o lado de fora e fica piscando uma lanterna com o sinal de S.O.S. em código Morse, tentando pedir ajuda. No filme, até as personagens acham idiota, mas um vizinho vê, entende e chama  polícia.
                Parece eu, falando dos meus sentimentos clara e abertamente dentro de um quarto-cofre, mas se tiver que falar fora das paredes de chumbo, não consigo. As paredes de chumbo sempre estão ali. Eu até já achei um buraquinho, já mando sinais em código Morse, mas parece que ninguém vê.
                Se alguém visse e viesse ver se está tudo certo, eu certamente abriria a porta do meu quarto-cofre, para poder ficar presa junto com essa pessoa no lugar onde eu falo dos meus sentimentos claramente. Sempre deixo a pessoa livre pra sair, mas sabendo que eu não saio. Sou daquelas que só diz que ama entre quatro paredes, se possível, de chumbo. Na frente dos amigos eu não amo. Na frente dos amigos eu acho legal, estou curtindo, como se eu não fosse sentir nada se o cara resolvesse ir embora amanhã.
                Entrar no meu quarto do pânico e zombar é uma afronta. Por isso, pessoas que adoram zombar dos sentimentos dos outros não entram.
                Também, entrar e viver quilo tudo comigo e sair falando sobre o que acontece lá dentro, eu considero traição. Trair minha confiança é tão grave quanto me trair com outra pessoa. Mas um que não entra.
                Eu fico sozinha, todos os dias, vivendo as minhas emoções intensamente no quarto do pânico. E lá dentro, por estar sozinha, as emoções ecoam e ficam enormes. Um “eu gosto de A”, se não tiver um “eu gosto de B” pra equilibrar, vai ecoar sozinho como um “eu gosto”, e vai ressoar, ressoar nas paredes e virar um “eu amo A”, talvez um “eu amo A e não sei viver sem ele”. Esses ecos inventados são sempre muito maiores que o sentimento original. Talvez por isso, fiquem ecos para sempre.
                Se quando eu dissesse “eu gosto de A”, o A pudesse ouvir, ou entendesse o meu código Morse e viesse ao meu encontro, ele entraria no quarto do pânico como um eu gosto, ia ecoar e virar um eu amo, mas não por ser um quarto de lata vazio, onde tudo vira eco, e sim por ser um “eu amo” dito por duas vozes. Ia crescer igual para os dois, ia ser lindo. Mas como A não ouve, eu falo sozinha no vazio, o eco amplia, “eu gosto” vira “eu amo” que vira “sou louca por”, que vira qualquer coisa, até um “A é o homem da minha vida” em um eco de muitos anos.
                Mas e aí? E se nessa altura o A ouvir? E se vier? Não posso deixar entrar de verdade alguém de quem os ecos falam o tempo todo, seria constrangedor pra mim o A saber os ecos que tenho dele. E como ele vai saber que é uma ampliação do eco e que o que eu disse originalmente foi um inocente “eu gosto de A”?
                O A pode ficar confiante demais e achar que com um eco daqueles, ele pode fazer qualquer besteira que a porta sempre vai se abrir pra ele entrar de novo.
                Ou então, A pode ouvir o eco e pensar que se não corresponde, se ele sabe viver sem mim, é melhor não se meter nessa furada, e cai fora.
                Então eu fico, sozinha no quarto do pânico, ouvindo minhas somas virarem multiplicações e depois potências e os resultados aumentando absurdamente, sem corresponder à realidade.
                Fico vendo A virar quase um ser mitológico, sem defeitos, e que nunca olharia para mim. Até aparecer um “eu gosto de B”, e aí as frases sobre A começam a ser substituídas.
                Parece que só vivo alguma coisa real, quando um tal X, sem ouvir, sem ver código Morse nenhum, se arrisca e vem bater na porta do meu quarto do pânico. Se o X agradar, ele pode já estar lá dentro quando eu disser o primeiro “eu gosto de X”.
                E assim eu vou vivendo, fabricando paixões platônicas e esperando que a realidade venha bater na minha porta.
Maria Fernanda C Machado
12/12/12

sábado, 8 de dezembro de 2012

Julgamento precipitado


Vou contar uma história que me aconteceu há uma semana.
       Estou lendo um livro em que o autor explica todos os detalhes de cena, entra nos pensamentos de todas as personagens e explica cada mínima sensação deles. Talvez por isso, quando desci do ônibus na central do Brasil, depois de um capítulo inteiro, estava totalmente mergulhada nos meus pensamentos, narrando cada um, como no livro. Até que uma imagem me chamou a atenção.
       Atravessando a Presidente Vargas vi um casal de jovens com toda a pinta de “favelados” no pior sentido da palavra. Notei o casal quando o rapaz passou na minha frente e eu percebi que ele estava usando um boné e uma bermuda. Estava sem camisa e descalço.
Narrando meus pensamentos, sem perceber eu taxei, classifiquei, cataloguei o menino e arquivei o pensamento. Estava pronta a minha imagem daquele menino, e era a pior possível. Minha primeira impressão, e dizem que é a que fica, não é?
Voltei a elaborar pensamentos quando a menina passou na minha frente, usando um vestidinho que também a classificaria como “favelada” seguindo o meu julgamento. Reparei que ela estava usando chinelos, e por sinal, um chinelo preto enorme.
Demorei quase uns três minutos para fechar a cena na minha cabeça, e talvez, se não estivesse inspirada pelo livro a investigar cada pensamento, não teria percebido que meu primeiro julgamento era um absurdo. Aquele menino favelado era provavelmente o homem mais cavalheiro que eu já vi. Conheço muitos homens educados e que seriam incapazes de fazer uma grosseria com uma mulher. Mas sinceramente, duvido que algum deles andasse descalço na central do Brasil para dar os sapatos para uma menina.
Fica a dica. Olhe sempre uma segunda vez, não se prenda à sua primeira impressão.
Maria Fernanda C. Machado
08/12/2012