segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Relacionamentos



 Rio, 08/10/2017


                Após um término de namoro brusco ontem, fiquei pensando sobre este relacionamento. Cheguei a algumas conclusões que eu não queria encarar, mas que acho que já tinha chegado há algum tempo.

                Existe um ditado popular que fala que temos que ser felizes sozinhos para depois podermos ser felizes com outra pessoa. Pois é, eu, dentro da minha prática espiritual, e dentro dos 5 anos que passei sem um relacionamento estável, aprendi a ser uma pessoa feliz. Não vou dizer que eu não queria ter um relacionamento, não é isso. Mas eu parei de esperar que isso acontecesse, e decidi ser feliz mesmo sem ninguém e sem fazer nada de especial. Decidi ser feliz agora simplesmente porque eu me amo.

                Algumas pessoas não entendem que estamos bem e com o passar do tempo, como não nos veem com ninguém, acham que tem alguma coisa errada, que nós precisamos nos relacionar. Isso se torna ainda mais grave para nós mulheres, afinal, o relógio esta andando, já passei dos 30, preciso arrumar um namorado que vire meu marido para depois eu poder ter filhos, não é isso o esperado de mim? Mas e se eu não estiver nem um pouco preocupada com isso? E se eu decidi não ter filhos pra não ter esse peso para carregar pelo resto da minha vida? E se eu decidi não me relacionar com qualquer um porque eu não sou qualquer uma? Bom, passei anos me amando e treinando isso, sou alguém muito especial na minha opinião, assim como você é a pessoa mais especial na sua opinião.

Não estou dizendo aqui que alguém é melhor ou pior que ninguém, estou falando de afinidades. Claro que todos acreditam que as melhores pessoas são as pessoas que são boas naquilo que somos bons, o que faz de nós as pessoas mais interessantes do mundo. Para alguém que acha que a coisa mais legal do mundo é dançar, as melhores pessoas não as que dançam, para quem gosta de beber, as melhores pessoas são as que vão acompanhar você no bar e tomar várias cervejas com você sem reclamar. E para uma pessoa que busca desenvolvimento espiritual, as melhores pessoas são as que buscam desenvolver-se também, e não são pessoas fáceis de achar.

Sou alguém que gosta de meditar, e de se aprimorar como ser humano. Busco desenvolver a minha mente e controlar meus impulsos. Não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica e não uso nenhum tipo de drogas, não assisto TV e tenho hobbies de trabalhos manuais. Ninguém diz que eu tenho só 33 anos, às vezes pareço uma velha nos meus gostos. Também não dizem que tenho 33 anos porque parece que tenho 25 ou menos se levar em conta a minha aparência. Mas o fato é que a grande massa da população brasileira estaria fora do tipo ideal de homem para mim, afinal, se eu não bebo, quase não vou à festas, o que eu faço de legal? Preciso de uma boa companhia para ficar em casa sem fazer nada se for o caso. Mas quem gosta de fazer isso além de mim?

Como as pessoas não entendem o meu momento e não sabem que busco algo mais profundo do que uma festa ou sexo, um belo dia no trabalho, minha chefe disse que havia contratado um homem lindo e solteiro. Na mesma hora eu soube que ela estava dizendo aquilo para mim, então pensei “por que não? Vai que ele é um cara light como eu preciso”. Conheci o novo funcionário, 9 anos mais velho que eu, e não achei que fosse para mim. Tirei ele da minha lista e voltei a trabalhar e olhar ao redor quando ia a algum lugar novo para ver se achava alguém interessante.

Depois da chefe, veio a recepcionista. Falou que eu tinha tudo a ver com ele, que nós formaríamos um casal lindo, disse que era “cupida” e que ia resolver. Normalmente quando alguém tenta fazer essas coisas eu me recuso a ceder. Basicamente a recepcionista me fez não querer conhecer de jeito nenhum meu então colega de trabalho e atual ex-namorado. Sou muito teimosa, e o fato de ela querer “resolver isso pra mim” me faz pensar que ela duvida da minha capacidade de arrumar um namorado, como se eu fosse muito feia ou não tivesse nem um pingo de habilidade social. Então não dei a menor bola para o funcionário novo e continuei a minha vida.

Mal sabia e que a recepcionista estava fazendo a mesma coisa com ele, e ele estava topando. Um dia, ele precisou que eu o substituísse no trabalho, e deu um jeito de pedir meu telefone. Nos falamos pelo whatsapp profissionalmente, e começamos a nos falar mais no trabalho, até que ele me mandou uma música chamada “I’m free now”. Achei o nome da música bem sugestivo, ouvi várias vezes, peguei a letra na internet tentando achar alguma mensagem subliminar que ele disse que não tinha, como não sabia o que era a mensagem, não respondi nada, e no dia seguinte ele nem olhou pra mim. 

Assim começou meu namoro, com um ruído de comunicação que virou uma briga velada, e como eu não queria ficar mal com um colega de trabalho, eu entrei em contato com ele para me explicar e dizer que já tinha brigado com a recepcionista por ela se meter assim na minha vida e estragar o clima de trabalho. O contato fez com que ele falasse mais comigo, e logo estávamos conversando por horas, embora eu quisesse desligar para não parecer que eu estava dando confiança, afinal ele era meu colega de trabalho e eu jamais sairia com ele só porque a recepcionista achou que eu deveria.

Outras pessoas me aconselharam a sair com uma pessoa nova, eu não encontraria um namorado se eu não desse chance a ninguém, então eu me permiti conversar no whatsapp, e gostei. Quando ele finalmente me chamou pra sair, eu sabia que ele era meu namorado, como se ele fosse meu namorado há anos. Saímos, e no dia seguinte ele me chamou para sair de novo, e eu tive a certeza. No 3º dia, antes de estar namorando eu tive a impressão que ele seria o meu marido em breve.

Começamos a namorar depois de uma semana, e eu sentia como se tivesse namorado com ele a minha vida inteira. Ele vivia eufórico e apaixonado, e eu vivia um amor maduro, de quem já aprendeu a não depositar a felicidade nos outros. Foi lindo, intenso, perfeito por uns meses. Então ele trouxe à tona o tema “paixão”. Para mim, não é mais uma opção. Paixão nos tira do eixo, tira a nós mesmos do centro de nossa vida e coloca outra pessoa, e eu já havia amadurecido o suficiente para não precisar mais fazer isso, mas pare ele isso era essencial, era o momento que ele estava vivendo, e ao perceber que o que eu sentia era diferente (nem maior nem pior, apenas diferente), ele começou a sofrer muito. Achou que eu não correspondia aos seus sentimentos.

Durante esse um ano e 3 meses nós tivemos vários conflitos. Tínhamos interesses em comum, e interesses completamente diferentes. Ele dizia que queria arrumar uma namorada budista e vegetariana, e esse acabou sendo o 1º motivo que fez ele olhar para mim, no entanto, agora no fim do namoro, eu não vou mais ao templo budista e nem medito mais em casa, ele já me fez comer peixe e tentou me convencer de que o meu cansaço crônico era causado pelo meu vegetarianismo. Esse interesse em comum se desfez. 

Um dos primeiros convites que ele havia me feito foi para nós sairmos para patinar. Eu achei aquilo o máximo. Eu amava patinar quando era criança. Patinamos algumas vezes, até que e decidi comprar patins novos para mim e parar de usar os velhos que ele me emprestava da sobrinha. Comprei um patins lindo, que desenvolve super bem, e caí e quebrei o punho no primeiro dia. Quando tirei o gesso estava doida para patinar novamente com ele, mas percebi que eu não tinha controle sobre os patins. Eles eram muito bons, e eu não era mais tão boa quanto era com 11 anos. Fiquei com medo de andar de patins, apesar dele insistir. Topei algumas vezes com os patins emprestados, mas depois comecei a recusar, e mais um interesse em comum se foi.

Ele me pediu em casamento e queria que eu fosse morar na casa dele. Eu achei precipitado mas topei como um projeto. Resolvi então investigar sobre um apartamento que a minha avó tinha e que não estava alugado, minha avó disse que deixaria eu morar lá, minha família apoiou o relacionamento, e todos estavam prontos para comprar me enxoval, mas ele não quis ir para o apartamento porque considerou o local perigoso. Ele queria morar comigo, mas tinha que ser na casa dele, onde mal tinha espaço para ele, que dirá para mim e meus dois gatos. E assim, o nosso interesse em comum mais importante virou uma divisão. Ele alega que quer estar comigo em qualquer lugar e que eu estaria mais interessada em uma casa bonita do que na companhia dele, eu alegava que ele, por outro lado, aceitaria qualquer lugar menos o apartamento, então a única opção que sobrava seria a casa dele.

Essa divisão foi a nossa ruína. Brigamos várias vezes pela mesma razão, cada vez com uma cor e uma melodia diferente, mas o assunto era sempre o mesmo. Quem casa quer casa, e se ele queria casar comigo e eu com ele, onde nós iríamos morar? Onde ele já mora e eu não vou conseguir entrar e estar “em casa” ou onde eu arrumei, eu planejei, mas ele se sentiria na faixa de gaza? Um dos dois tinha que ceder, e por um ano eu cedi, e depois das brigas tudo voltava ao normal.

Não vou entrar aqui nos méritos das outras brigas, até porque, se quiser saber como foram todos os nossos problemas, eles foram 2. Ou ele era mais apaixonado do que eu ou eu queria mais uma casa do que o amor dele. Foram essas mesmas brigas por um ano, e como nada se resolvia, a gente adiava a briga, deixava o assunto guardado em algum lugar pra esquecer, mas o assunto sempre voltava.

Terminamos ontem depois de uma briga que começou feia, e quando ele não tinha mais o que dizer, começou a falar de seus fantasmas sobre meus antigos relacionamentos. Esse assunto me tira do sério, porque ele não me conhecia na época, então que eu tivesse vivido x, y ou z com outro namorado, isso não diz respeito à ele, mas ele me acusa de ter sido mais feliz com outro namorado do que sou com ele hoje. Mesmo que isso tivesse acontecido, não é um crime nem algo errado, e mais, de onde ele tira essas coisas? Coisas que nunca existiram? E me acusa de ter amado mais a outra pessoa do que a ele, sendo que ele não estava lá e não viu todos os problemas que e tive. Isso me tirou do sério, e como eu estou afastada dos meus treinamentos budistas, eu resolvi “chutar o balde”, alimentei todos os fantasmas dele, como a gente faz mesmo nas brigas, pra sair por cima. A gente pega a ferida do outro e joga o que tiver de mais ácido para doer mesmo, já que ele estava fazendo doerem as minhas feridas também.

Hoje passei um dia bom. Sinto falta do whatsapp dele (ele me bloqueou), mas fora isso, ainda não tive tempo de sentir saudades de verdade e ver o quanto vou sofrer com o fim de um quase casamento. Estou estável, triste mas de certa forma aliviada, porque a pressão de não amar como o outro acha que merece é muito grande, e estava me matando. Mas pensei muito o dia inteiro, e acho que estou bem porque eu realmente sou feliz sozinha, e não precisava dele para nada, nem para ser feliz. Engraçado é que isso era uma brincadeira nossa, ele queria ser um inútil na minha vida, para ter certeza de que eu estava com ele por ele, e não pelas utilidades que ele teria, mas quando eu não precisava dele pra ser feliz, ele se ofendia e dizia que eu não era apaixonada. 

Então hoje eu penso que ser feliz sozinha foi a melhor coisa que eu poderia fazer por mim mesma, mas também foi a ruína do me relacionamento, porque a maioria das pessoas não está preparada para esse tipo de amor. As pessoas confundem esse tipo de amor maduro com insensibilidade, mas são coisas bem diferentes. Se eu fosse insensível não estaria preocupada com ele agora, ainda mais depois de tudo que ele me ofendeu ontem, mas estou, porque realmente existia amor.

Minha conclusão é que para mim, a melhor coisa é a gente realmente aprender a ser feliz sozinha, mas o problema é que reduzimos muito o nosso universo de possibilidades. Nossos relacionamentos só vão dar certo com alguém que tenha conseguido evoluir como nós e ser feliz sozinho também. Existe felicidade com duas laranjas inteiras, e existe felicidade com duas metades formando uma laranja, mas descobri que infelizmente, não existe felicidade com uma laranja e meia. E que meu ex namorado me desculpe, eu não quero voltar a ser apenas meia laranja.

Maria Fernanda Carneiro Machado

 

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