domingo, 10 de setembro de 2017

Saudades de mim

Depois de uma manhã cansativa de não fazer nada, sozinha no quarto do meu namorado, resolvi acordar, preparar café e dar uma arrumada no quarto. Quando todas essas tarefas acabaram, resolvi aproveitar a internet do meu celular, sem pesquisar nada, apenas vendo o que vinha até mim, como promoções do dia da amazon ou os meus e-mails.

                Joguei fora e-mails falando de bolsas de estudos internacionais pensando “isso não me pertence mais”, depois fui vendo como recebo vários e-mails de assuntos que eu realmente gosto, mas que ficam lá, se acumulando para sempre porque nunca tenho tempo de ler (apesar de viver esses momentos de tédio e de um nada extremamente cansativo).

                Resolvi abrir um e-mail de um canal que eu assinei sobre yoga. Amo fazer yoga, mas acabo não fazendo quase nunca, e depois que comecei a namorar, faço ainda menos. O e-mail não era sobre yoga, mas sobre hábitos alimentares, que é outro assunto que eu amo. Não pude ver o vídeo porque estou sem internet, e só consigo abrir os e-mails, então dei uma estrelinha para lembrar de ver nas horas eu estiver em casa com o meu computador e a minha internet, assim como faço com as vagas de emprego que chegam para mim.

                Abri então um newsletter de um site que eu gosto muito e consegui clicar no link e abrir uma matéria (de novo só o texto), sobre água alcalina. Já passei dias pesquisando esse assunto, e cheguei até a colocar coisas na água que eu bebia, como deixar um limão aberto dentro ou um pingo de leite de magnésia.

                Fiquei com muita vontade de abrir o vídeo e tentar alcalinizar água, com vontade de pegar meu mat velho que está encima do armário e fazer uns asanas, mas não posso. (Okay, a yoga eu não faria de qualquer jeito porque eu fiz uma cirurgia mês passado e levei pontos na musculatura abdominal), mas eu também não faria a experiência com a água pelo fato de não ser a minha casa.

                De repente voltou na mina cabeça uma fantasia horrível que eu tinha tido mais cedo quando eu acordei.  Me senti no filme “o quarto de Jack”, como se eu estivesse trancada aqui, esperando o meu namorado chegar.

                Percebi então que não faço mais as coisas que eu gosto. Não escrevo mais no meu diário, não faço mais artesanato, não crio mais comidas diferentes, não faço mais coisas doidas no cabelo e nem pinto mais as minhas unhas. Atualmente, de todas as coisas que eu faço pra me distrair, a única que ainda tenho feito é ler, e mesmo assim, toda vez que sou flagrada com o meu kindle eu escuto alguma piadinha ou ironia.

                Foi então que uma frase se materializou na minha cabeça, como se outra pessoa tivesse colocado lá pra mim. “Estou com Saudades de mim”. E depois parei pra pensar... “Quando foi que eu deixei de ser eu mesma?” Essa pergunta trouxe à tona várias coisas que eu estou sentindo desde de manhã. Só posso ser eu mesma na minha casa, onde ser eu mesma não vai incomodar ninguém. E no contexto atual, acho que nunca vai acontecer.

                Estou com medo. Medo de não ser eu mesma e de ficar velha como algumas mulheres que eu conheço, achando que meu namorado “me deve” alguma coisa por ter “roubado” os melhores anos da minha vida, quando na verdade, fui eu que aceitei e escolhi estar aqui.
9/9/17
Maria Fernanda C. Machado



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