Hoje terminei de ler o livro do Ajahm Brahm – Antes que o dia acabe, seja feliz! – O livro é muito bom, e acho que é válido ler de novo depois de algum tempo.
Em algum momento no livro eu percebi que uma das coisas que o budismo sugere e que não faz parte da minha vida é dar valor a mim e às minhas próprias qualidades. Logo depois li uma história que não me trouxe nenhum conteúdo novo, mas uma releitura de um conteúdo meu.
Ajahm Brahm conta a história de um homem que foi preso e que viu na cela a frase “isso também vai passar”, e conta como essa frase mudou a vida do homem.
Eu já conhecia essa ideia, mesmo sem ninguém ter me ensinado. Inclusive já ensinei isso para a minha vizinha em um momento difícil.
Quando fui atropelada sofri muito, em especial com a questão da aparência e dos cuidados especiais com o implante recém colocado, até que um dia lembrei de uma coisa que aconteceu quando eu era uma criança.
Eu tinha uns cinco anos, botei um cotonete em cada ouvido e fui mostrar pra minha mãe. No meio do caminho, eu estava no corredor, brincando com a minha irmã, bati a cabeça na parede e o cotonete entrou. Eu quase furei o tímpano do lado esquerdo. Por muito tepo minha mãe botou remédio e eu tomava banho só do pescoço pra baixo no chuveiro e lavava a cabeça no tanque (minha mãe lavava e eu protegia a orelha). Fiquei uns meses sem mergulhar na piscina.
Na minha mente de criança, com a percepção temporal de uma criança, eu achava que ia ter todo aquele transtorno para sempre. Depois de um tempo comecei a tomar banho normalmente mas com um algodão no ouvido com remédio, depois sem remédio, depois sem algodão e voltei a mergulhar. Nem percebi que estava boa. É como se depois de estar boa a gente esquecesse que teve um problema sério algum dia. Esqueci esse fato até alguns meses após ter sido atropelada.
Agora eu já era adulta, e o dano não foi “quase”, foi um dano real. Por algum tempo eu pensei que realmente seria um transtorno para o resto da minha vida, afinal, não nasce um dente novo em alguém de 23 anos.
Um dia me dei conta que o problema do ouvido passou. Outros problemas menos sérios, mas também problemas, como por exemplo dar jeito no pescoço caindo de cima da geladeira (ta, eu sei que eu era uma peste), todos geram mobilização mas depois passam. Percebi que o problema atual também passaria. Depois disso estou totalmente adaptada aos implantes, levo uma vida normal, com uma dieta normal. Só não posso comer maçã do amor, mas também nunca gostei muito, então voltei ao meu 100% normal.
Passei esse meu conhecimento para a minha vizinha quando ela precisou, e agora posso ver como eu sou uma pessoa inteligente. Quantas pessoas precisam que esse conhecimento chegue até elas, e às vezes não aprendem nem assim, e eu aprendi sozinha, no sufoco, com as minhas experiências. Esse conhecimento é meu e não vai me deixar nunca mais.
Percebi como eu tenho o meu valor (já que sou inteligente), e que apesar de às vezes achar que não sei nada, agora sei que eu sei alguma coisa, e isso faz de mim o bastante. Sou o suficiente para me dar valor e para ser feliz.
Rio, 02/07/2012
Maria Fernanda C. Machado